quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Mote 165
Cálice (Chico Buarque)

Não quero de outro modo, sem acordo 
Pois nesta sensação de haver morrido
Prostro-me já à beira do jazigo 
Inerte o coração, cheio de lodo
Com vago olhar parado no horizonte
Já era imóvel o corpo horas inteiras 
E sempre pelas mãos pousada a fronte 
Como os amores fossem só ideias 


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

INSINUANTE...


Para o capricho pleno fecundar
Como clareia a lua a noite escura
Vai no erotismo puro se afundar
Pois dessa lida afoita não descura

Debanda a timidez pela aventura
Que à viva gula vinda num olhar
Fogoso de trair a compostura
É aroma que esvoaça de molhar

Tanto agradece aos bis que até se ri
Pelo prazer que em lábios faz morada
Bailando insinuante em frenesi

Sutil é essa vontade alucinada
Que une o corpo à língua, e nem aí...
É pira que se faz desatinada!

domingo, 18 de novembro de 2018

Mote 162 - INCONSTÂNCIA




Sem começar, como se vai saber?
Nalguns momentos de fuga e sonho, levar avante as mais proibidas loucuras, tão distantes da realidade quanto a eternidade fugaz que reside num fiapo da ilusão, onde os gestos, em suavidade, plantam o viver em cada instante, é quando cada vontade se torna mágica, à moda de todo feitiço, em noite de lua cheia...

(Miguel Eduardo Gonçalves)

Entre mim e ti


Impregnados numa alegoria resplendente e gloriosa!




Entre mim e ti 
Reflexos revelam à noite
Líquidos sentidos
Neles repousaremos
Para acrescentar mais ao nosso mundo
Cancelando o tempo
Que valerá um pequeno infinito
De todas as forças num só momento fundidas
Para serem a eternidade de um inesperado encanto


Quando tudo começa, tanto faz


Desceu o caos no coração em correnteza entediante!

Quando tudo começa, tanto faz
Tudo à minha volta permanece
Inclusive no pressentimento
A colher flores no campo
Como antigamente
Quando a noite não caia de uma vez
Ante a claridade da noite enluarada
Repleta do sonho possível
Porque momento igual não te pertence...


Somos o que somos...



Na arte do viver, o nascimento
Por acerto do céu, me validou
Pois foi que então por mim me fiz momento
Silêncio que ninguém reivindicou

O tempo assim falou, jogou-se em flores
Já sei donde advém estado igual
Da estrela que é no céu enquanto fores
A forma em que se viu tal ritual

Efêmero querer tão pertinaz
Areia e terra e pó nem repartidos
Mistura que o amor o mundo faz
Boa, n’alguns ligeiros voos pressentidos

O edifício do bem é adolescente
O mais que pode ser não sei ainda
Na música se fez como torrente
E acaba de fundir minha moringa

Miguel Eduardo Gonçalves

Bailarina



Povoando desejos
Traz beleza
Testemunha desenhada
Da paixão
Tão feminina...

Miguel Eduardo Gonçalves



sábado, 17 de novembro de 2018

MOTE 161 (Pedido -Gonçalves Dias)


Espero que mudes...
Conheço a tempestade de silêncios
Apenas teus olhos relampejam
Palavras esmagadas na razão
De pele, de incêndio, de penumbra
Pontos na escuridão de início de tormenta
Que transformam solidão em vício...

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

MOTE 161 Pedido -Gonçalves Dias


Teu pensamento, bem longe errava...
Segredos de uma noite de lua
A reverenciar o momento,
Como um lago parado, sem vento!
Peço-te, pois, em cada gemido,
Que fujamos daqui para o mundo,
Onde a ousadia enfim nos invada
Co'a magia que o achego enfeitiça...

FAGULHA UMA CENTELHA


Um dedo de prosa na longa noite das sombras, para povoar o amanhã de um dia sedimentado no delírio, esse que assanha o tédio, quando a saudade aperta, despertando a solidão. Que vontade de ser feliz no reviver dos teus abraços, na maciez em que o saudoso carinho lindo se tornou findo quando acordei!
Tu sabes como começa, louca qual feitiço, essa vontade distante da realidade, mas eivada de sensibilidade? Não? Então fica com meu abraço que se transmuta em novo dia que há de fundar o paraíso onde caibamos nós dois, porque amor não uma palavra apenas, é muito mais...
(Miguel Eduardo Gonçalves)

... SONHO



Desenha-se um multiforme e e_terno pesadelo...


SONHO
Partida em mil pedaços minha alegria,
Teu nome escrevo na areia, e me calo...
A solidão sai em busca da palavra mágica 
Que preencherá meu tempo,
Aniquilando a saudade!
É tempo de paixão na madrugada...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

DO GRITO... DUETO POR Miguel Eduardo Gonçalves


Era um amor tão bonito.
Parecia não ter fim.
E quase morri aos gritos.
Quando disse adeus pra mim.
Eu sou viciada em silêncio,
Eu ouço música sem parar,
talvez porque não ouço
meus próprios pensamentos....

Num fundo suspiro...
Que modo silencioso eu vejo a céu aberto
Noite adentro
É como um beijo sob um serenar de enverdecer
Quando ficam róseas as faces
Num calendário de sonhos que perduram
Rebrotando indefinidamente
Porque despertos no tempo das esperas
Quando a lua vê-se enluarada
E é nosso tempo de colheita...

A esplender de in_vencível encanto... (Marilandia Marques Rollo)



Entrelaçamento de emoções-
Beirando o onírico, a expressão plena da consciência gera sensações pelo que nos outros reflete e transparece. Que subjetividade essa figura define plenamente, quando mantém acesa a percepção do que transcende...
Amorosos ideais pedem a matéria pelos gestos de quem ama, integrados ao mundo dos sonhos, das novelas e poesias. Mas, dirão as palavras tudo?
Saibas, amor, que em mim és viva rosa, intempestiva, fabulosa paixão que explica e afinal explode...
Na plenitude das sensações aclaro meus sonhares!
(Miguel Eduardo Gonçalves)

sábado, 10 de novembro de 2018

MOTE Amar é breve, esquecer é demorado - Pablo Neruda


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Basta-se o tempo na incerteza esquecida,
O amor quando ensaia, é lírica emoção,
Dispensa adornos buscados no entendimento
Dos primeiros sinais, que por si se distinguem
No querer urgente, vindo como seiva
Sutil, da inspiração de casos passados...


Miguel Eduardo Gonçalves

Tesão...

Luzinha acende-se
E um choque
De ponta a ponta
Apalpa...
Estações
Como as da lua
Vão e vêm, mas ao tato
Ancoram...
Desejo intenso
Suave beijo
Som do riso:
Olhar lascivo
Ereto, altivo
O Ato!
Miguel Eduardo Gonçalves

Estado de Espírito


Subconsciente vem à tona
Lá das profundezas da razão
Para atapetar a vida e sensibilidades
Mostrando-se beleza não qualquer...
Um sentido de sensualidade
Dá cor aos sentimentos
Escondidos no âmago do impreciso
Que sensorial visão exterioriza!
E isso não é tudo
Mas apenas vontade aguçada
Repassando a esperança...
Necessidade de dizer mais.
Miguel Eduardo Gonçalves

Emoções...

Qual
Nuvem
Que passa
São memórias
Dessa cor do outrora
Ora emoções que me concedo

Poeira Azul


E nesse devaneio penumbroso
madeixa da tocha
vi transformar-se
em semente novinha em folha
farejando um destino marchetado em carmim
aquele das pétalas cheirosas!
E é sonho recorrente
que navega nas águas de céu
como são teus olhos
jóias profundas de uma alma
que se fala por luzes caras.
A vida te quer sim
e tudo que nela há
voa em teu horizonte
donde partiu
porque faz parte de um colorido
como devem ser e serão
decerto as horas todas
pelos vários planos
da poeira azul que faz este mundo...
-Porque somos quem nos pensa-
Miguel Eduardo Gonçalves

Estado de Espírito

Subconsciente vem à tona
Lá das profundezas da razão
Para atapetar a vida e sensibilidades
Mostrando-se beleza não qualquer...
Um sentido de sensualidade
Dá cor aos sentimentos
Escondidos no âmago do impreciso
Que sensorial visão exterioriza!
E isso não é tudo
Mas apenas vontade aguçada
Repassando a esperança...
Necessidade de dizer mais.
Miguel Eduardo Gonçalves

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

HAIKAI

Perfume no ar-
Floresce uma dama alegre
À sombra da noite

Miguel Eduardo Gonçalves

IRRETOCÁVEL SONHO...


Manhã ainda
Escurinha, vaga e longa
Em pródigas fascinações
Maravilhas de um sentido
Que baila e não se acalma!


Miguel Eduardo Gonçalves

VESTÍGIOS


Por onde o desejo enxerga
Agora tão faminto
Às reverências que fazes
Olhos nos olhos, em leveza de brisa
Insinuando-se à hora urgente
Que se despeja na imaginação
Num afago de fazer tremer
A libido que se anuncia
De palavras dispensada...

Miguel Eduardo Gonçalves

Atração Fatal

Na primitiva forma do cortejo
A volúpia é tempero da libido
E a graça lastreada por um beijo
Que ao vê-la como vinho envelhecido
Os poros se dilatam ao desejo
Da carne que já tem nos consumido
E a brincadeira torna-se a certeza
Que à negação não reste mais defesa


Miguel Eduardo Gonçalves

Obra-prima


No seu toque o mimo
Em que me derreto
Liberdade inteira
Da verdade
Enigma


Miguel Eduardo Gonçalves

CELESTEMENTE


Persigo-me
Em cada instante
Para não perdê-lo...
Nem me despeço,
Vou,
Mas permaneço
No sorriso
Que beija
O pressentimento
De me realizar
Em ti!


Miguel Eduardo Gonçalves

Dedo de Prosa de Inverno

Por ser esta a minha opinião, talvez na verdade uma revelação, desde o romper do mês domina-me a consciência um reflexo róseo, coisa de primavera. O sangue mais facilmente chega à face, como nasce a brisa despenteada, parecendo tonta. São os sentidos de prontidão exacerbando as cores, os odores, os sabores e os sons. E um primeiro raio de sol vira vapor quando escorrega entre os galhos. Que honra pertencer a este mundo e distingui-lo! Poder pintá-lo cor de outono, amarelecido... As árvores despidas, vãs raparigas, quase escondidas, pela vegetação amiga! Era a terra enevoada, e os pássaros nos ninhos, que pareciam despertar... o verão!

Miguel Eduardo Gonçalves