segunda-feira, 28 de setembro de 2009













A MENTE-

Como eu quisesse estar ausência tida
Assim a face ao mar em muda areia
Levada em vento, para bem na ida
Ao ar ser livre, como é a sereia

Então, demente e esguia ogiva intensa
Tal uma escada ao céu levando adeuses
Ficasse eu só memória e pura crença
A ver corando o dia incertas vezes

No breu noturno acende ela ametista
Em estrelado cio de estrelas lindas
Solta a vencer sem ter lembrança à vista

Viúvo sol do vento amoralista
Tua língua foge quando tu te findas
Na minha mente feito de aforista

Miguel-

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SENZALA - SONETO
















SENZALA

Se teus olhares seguem em segredo
Aonde alcance o mar o proibido
Espelhos entrevistos que são medo
Afligem tua insânia amor contido

Cenário que conduz a engano ledo
Nas cores do desejo remoído
Em que o mistério cede à voz mais cedo
Aquela voz mais forte e sem sentido

O meu querer é outro, é previsto
No foro expresso d’alma se regala
E se distrai enquanto o resto é quisto

Inúmeras quimeras de uma escala
Acordes dissonantes do imprevisto
Um coração quiçá como em senzala


Miguel Eduardo Gonçalves

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Faze teu coração meu cativeiro... (SONETO)

Faze teu coração meu cativeiro
Quero contigo estar sabor inteiro
Me conduzir à casa do banquete
Para eu não perecer de fome ao ver-te

Meus poros se dilatam em centelhas
De fogo são teus beijos mil abelhas
Que polinizam flores nos jardins
Como és das volúpias torvelins

Hei de exalar incenso e mirra quente
E todos os sabores corporais
Percorrerão a alcova como sais

Amazona, minh'alma é conivente
Pois me acretido estrela em mar cadente
Que teu desejo faça-me imortal

Miguel Eduardo Gonçalves

domingo, 20 de setembro de 2009

Essa cumplicidade redatora... (SONETO)
















Essa cumplicidade redatora
Que pode mais em letra professora
Sabe, expondo como não se derrapa
Que não há nela mais que o que a encapa

Faz com que nos pareça ampliação
E que uns versos por outros, canção
Se faça a retinir como ouro e prata
Ou como seja enfim nossa bravata

Buscando à mente algo como lumes
Por encontrá-la aberta tal um mapa
Vá iluminar-se em sons de serenata

E o tempo ser acorde dos perfumes
Domínio inexprimível dos ciúmes
Anseio vagabundo que esfarrapa

Miguel E Gonçalves-

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Rasgando o verso... SONETO


















Rasgando o verso quando a rima arranha
Numa noite festim como façanha
Nada e tudo que cada um domine
Será paixão e sexo qual num cine

O resto é frágil cera, um quê incerto
Que abraça com fervor o mais desperto
O que nessa constância se inquieta
E segue entre carícias como atleta

Cortinados de seda fazem hora
Emudecemos para ouvir a oferta
Morremos de querer em tom alerta

Esse infinito assim tão belo acerta
A todos como quer e sem demora
Consome-nos cruel, nos faz outrora

Miguel E Gonçalves

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

CONVITE E RESPOSTA (Karinna* e Miguel-)

















De um Convite*

__________Vem*

Ah...vem ficar comigo
Deita aqui teu corpo no meu
No aconchego desse desejo que não é só teu.
Ah vem ... minha maciez diz... vem
Monta nosso amoroso quebra cabeça... encaixa nossas carícias
Nossos beijos... de todas as possíveis delícias.
Vem... dedilha tua música crente e desejosa
Nas curvas que desenhas com teus olhares que afinam minhas cordas
Nas volúpias cremosas das minhas... azuladas rotas.
O tempo de querer-me é agora
O tempo de acarinhar-te é sempre... toda hora.
Não há pedaço meu que não te chame
Não há pensamento meu que não te aclame.
Ah...vem... deita tua guerreira fronte no meu colo
Descansa tua vida na minha no arfar louco dos meus seios
Que pelo teu toque fremem e arrepiam-se nesse morno anseio.
O tempo de amar-me é hoje... no presente
O tempo de receber-te em mim é sempre.
Espero-te em transe corpóreo de arrepiada antecipação
Pois tenho em mim que somos mais que corpos em união
Somos a amplitude completa do encaixe perfeito de dois corações.

Karinna* (www.karinna.prosaeverso.net)


De um convite aceito-

Os olhos grandes, brilhantes, iluminaram o clima da estação. Poucas frases... No corpo só a combinação!
Ah... O corado das faces, de um brilhante de vida, sobre o apelo imediato da pele clara!
E contrastes, do interior vermelho ante o rosado do círculo imperfeito,
Absorto e envolvido, aceito o convite, causador de grande efeito, duas línguas com gosto e delícia!
A hora, deixada enlouquecida, é já tão inflamada, que ouso dizer que é insuportável estar sem ela.

Mas saiba, harmônica mulher, de imediato e intempestivo refino-me em tua companhia, assim a coragem da resposta
e do aceite não fazem dessa resposta ousadia, mas não poder resistir a ela (a resposta), porque por tolices dessas
sou capaz de até morrer. Cômoda é a situação do prazer, fervorosos carinhos,

TUA RESPIRAÇÃO-

Miguel-

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

HAIKAI

Um quê transparente
Aromatiza a volúpia
Fiel confidente

Miguel

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CASINHA



Prateleira tosca
Com pratos, um bule azul
Fósforos e vela

Aranha corre
Atravessa a parede
Some na racha

Cheiro de café
Retrato amarelado
Coisas da vovó

Miguel Eduardo Gonçalves

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pinta a Pena

Um tanto faz
No quê da perturbação
Nuvem insinua-se
Embaixadora, faz sonho
E caminha entrelaçada
No muito pouco
Quase nada
Enunciado destemido
Crença rouca
Que sem tempo ao tempo
No sentimento arde
O que o toque encena

Miguel E gonçalves

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

TROVA

Que imenso mar, nossa vida,
memória de cada dia...
Tristeza desconhecida,
cada coisa fantasia!

(Miguel E Gonçalves)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

TEMPO, POR QUE NÃO SE FELIZ - DUPLIX DE MARILÂNDIA
























TEMPO//POR QUE NÃO SER FELIZ

Dispersa-se o tempo/ nas águas do sonho
Sublimam-se as paixões/ afasta-se por vezes o veneno
Fenecem os corações/ quando é tudo fácil e certo


MARILÂNDIA E MIGUEL

domingo, 6 de setembro de 2009

SAUDADE (1)



















Deus nos deixou a saudade
Para nossa companheira
E ela toda bondade
Não nos larga a vida inteira.

Saudade machuca a gente
Bem junto, no coração.
Ela é doce ... e tão pungente
Mas nos traz consolação.

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhaddo poe Déa Nayá Joesting Nogueira

SAUDADE - 2




















Saudade dos tempos idos
Saudades do que passou
Dos nossos mortos queridos
Daquilo que a gente amou.

Perfume da nossa vida,
Sem ela como viver?
Mas quando muito sentida
Dela se pode morrer...

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

Saudade - 3

















Que coisa linda e tristonha
É uma noite de luar!
Saudades... e a gente sonha...
Dá vontade de chorar.

Que saudade a gente sente
Quando a tarde vai morrendo!
Tons sombrios no poente
Vão a alma entristecendo

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

Saudade - 4
























Saudade de um ser ausente
Que consolo e que aflição!
Saudade vai docemente
Machucando o coração...

Em ti eu vejo bondade
Saudade! Eu gosto de ti.
Pois se chego a ter saudade
Dos tempos que não vivi...

Uma flor tristonha existe
Roxa flor da soledade,
Por ser assim roxa e triste
Tem o nome de saudade.

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Enviado por Déa Nayá Joesting Nogueira

Saudade (final)



















A saudade traz o pranto
Traz o suspiro também
Saudade é enlevo e encanto
De um coração que quer bem.

Relembrando a mocidade,
Desse bem que já passou
Bem amarga a saudade
De um tempo que findou.

Saudade está sempre presente
É agridoce emoção
Saudade mora com a gente
No fundo do coração.

Deus, na sua bondade,
Para a dor aliviar
Mandou do céu a saudade
Para a gente consolar.

Recordando...que doce emoção
O coração nos invade.
De onde vem tal sensação?
Do perfume da saudade...

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Apresentado por Déa Nayá Joesting Nogueira

O SÁBIO LIMITA-SE A DIZER: QUEM SABE...

Agravou-se o estado-

Um arrepio domina
Não de frio
Mas de angústia

Assustadoramente deserto
Sente e vê
Mais um dia horrível

Feliz ou infelizmente
Não sei se dormiu
Até a aurora

Imaginem alguém que dorme
E que tentam liquidar... Terrível sono
Ou não prega os olhos... Arrasadora insônia

Sente-se espiado
Por uma presença invisível
E constante

Miguel Eduardo Gonçalves (5/9/09)

NA ROÇA


Na Roça

O sol a nascer atrás do monte
E a passarada a cantar
O murmúrio, a frescura da fonte
E o céu começando a clarear

Cai de manso sobre a terra
Sereno da madrugada
E quanta poesia se encerra
Numa plantinha orvalhada

O céu é rica palheta
A luz do sol no levante
Destaca-se nele a silueta
Da serrania distante

Ouve-se o brando cicio
Da brisa ao perpassar
E lá...doutra banda do rio
Um galo põe-se a cantar

Passarinhos pipilando
Festejam a alvorada
Vê-se além um boi pastando
Junto à curva da estrada

Ouve-se ao longe o chiado
De um velho carro de boi
Lembrança de um tempo passado
De um tempo que se foi...

Bem pertinho da estrada
Uma casa de sapé
Soltando uma fumarada...
Já estão coando o café

Borboletas multicores
E um beija flor, que beleza!
A esvoaçar entre as flores
São risos da natureza

Vai o sol se levantando
Todo luz, todo esplendor
Seus raios a terra beijando
Dão-lhe brilho, vida e calor

O sol já vai esquentando...
Que cheiro bom vem do mato!
As árvores se debruçando
Sobre as águas do regato

Dois cavaleiros trotando
Vêm descendo uma ladeira
Os cavalos relinchando
Numa nuvem de poeira

A gente levanta bem cedo
Para ver o sol raiar
E ouvir o passaredo
Em bando alegre cantar

O mugir da vaca malhada
E um copo de leite quentinho...
Na cozinha atijolada
Um bom café com bolinho

Claras manhãs lá da roça
Cheias de luz e esplendor!
Pois essa beleza é bem nossa
É dádiva do Criador

E o azul do céu se acentuando
Num colorido sem par!
Uma leve névoa flutuando
Insetos bailam no ar

Sai do ninho uma galinha
Bulhenta, cocoricando
E vai mui ligeirinha
O seu ovo anunciando

Ditinha varrendo o terreiro
Pondo-o bem limpo e garrido
Espanta o cavalo matreiro
Sai pra lá, seu atrevido!

Uns pintinhos vão ciscando
Lá no fundo do quintal
Pombas brancas arrulhando
Sobre as telhas do beiral

Na cozinha a Nhá Maroca
Vai cozinhando o feijão
Enquanto moe a paçoca
Num grande e velho pilão

Puxando o balde, a Ditinha
Lá das profundezas do poço:
Vô matá uma franguinha
Tá na hora do armoço

O cachorro perdigueiro
Latindo espanta a gatinha
Que corre pelo terreiro
E se esconde na cozinha

O forno de barro a um canto
Além, o valho paiol
E tudo brilha, tudo é encanto
À luz dourada do sol

A cabra está dormitando
À sombra de um velho telheiro
E uns porcos vão engordando
No cercado do chiqueiro

Na roça a vida é tão boa!
Quanto sossego e fartura
Galinha, frango e leitoa
Milho verde, rapadura...

Feixes da verde cana
E a garapa saborosa
Cachos da boa banana
Madurinha apetitosa

Junto à casa, no terreiro
Viceja florida roseira
Rente a ela um chuchuzeiro
E uma verde e folhuda abobreira

Horta e o jardim reunidos
Num abraço fraternal
Que cheiro bom! É o craveiro
Junto à cerca do quintal

À tarde o sol já tombando
Entre as nuvens do poente
Um vento bom vai soprando
Refrescando a terra ardente

Uma janta bem gostosa
Com virado de feijão
Linguiça frita e cheirosa
E um quartinho de leitão

As laranjeiras floridas
Com seu cheiro adocicado
Ostentam garbosas, garridas
Brancas flores de noivado

O milharal ondulando
Ao vento fresco da tarde
Os frutos vão sazonando
A um sol tão quente que arde!

Um velho monjolo socando
No seu tum tum cadenciado
Quanta coisa vai lembrando
Saudosa voz do passado...

A roda d’agua rodando
No seu constante rodar
A paisagem vai enfeitando
Com seu imponente girar

Que beleza o ribeirão
Entre as pedras saltitando!
Lá em baixo, num grotão
As águas vai despejando...

A tarde morrendo, morrendo...
O céu se tinge em rubores
Num espetáculo estupendo!
Numa apoteose de cores!

E a noite cai sobre a terra
Cobrindo-a de espeço véu
Oh! Quanto mistério se encerra
Nos astros que brilham no céu!

O primeiro vagalume
Qual lanterninha encantada
Fura o negrume da noite
Com sua luzinha esverdeada

Tudo é paz, tudo é silente
Cessando as lidas diurnas
Só se ouve tristemente
O pio das aves noturnas

No terreiro, Nhô Bastião
A velha sanfona empunhando
Com alma e com perfeição
Linda valsa vai tocando

Noites de São João na roça!
Mil encantos, tradição
Bom quentão, festança grossa
Com rezas, fogueira e rojão

Eis o mastro no terreiro
Todo enfeitado de flores
E ao canto milagreiro
Todos rendem seus louvores

Um cafezinho cheiroso
Com bolinho de fubá
E um bate pé gostoso
Pra friage espantá

Viva São João, viva São João!

Noites claras de luar
Tem no mato mais poesia
Fazem na alma despertar
Saudade e melancolia

Então à luz do candeeiro
No doce aconchego do lar
Um café com pão caseiro
E depois... é descansar

A vida é bem trabalhosa
Quer na roça ou na cidade
Mas no sítio é mais gostosa
Mais fartura e liberdade

No tempo da chuvarada
O sítio é desolação!
O marulho da enxurrada
Goteiras pingando no chão

Céu plúmbeo, nuvens escuras
A toldar a luz do sol
Põem na alma mil tristezas
Nem pássaros nem arrebol

Mas as chuvas são amigas
Delas o chão se aproveita
Pondo a crescer as espigas
Dando-nos farta colheita

Até o frio lá na roça
Tem sua compensação
Em noites de geada grossa
Conversar ao pé do fogão

A boa batata assada
No braseiro do tição
E a pipoca arrebentada
Num enorme panelão

Dorme a gata friorenta
Na quentura do paiol
Ui! Que frio! E a velha Benta
Tranca a porta do quintal

E contam-se histórias antigas
E “causos” de assombração
Histórias que são ouvidas
Com arrepio e emoção

Um cafezinho bem quente
Para espantar a friagem
Põe o pessoal bem contente
Dá calor e dá coragem

Depois, é a cama quentinha
E um macio cobertor
Dormindo-se até manhazinha
Um sono reparador.

Anna Nayá Fleury Nogueira – In Mente

Apresentado por Déa Nayá Josting Nogueira

VELHOS CASARÓES


Solarengos casarões coloniais
De grandes salas e de amplos varandões
Erram por eles sombras ancestrais
Mortos que vivem em nossos corações

No tristonho beiral enegrecido
Nas estátuas de louça ornamentais
Nas pinhas, vasos e abacaxis de vidro
Relembram eras que não volvem mais

Velhas sacadas de gradil graciosas
Escadas nobres de antigos sobradões
Lembranças vagas... evocações saudosas
Enchem de mágua os nossos corações

Na solidez austera da estrutura
Nas acolhedoras telhas do beiral
Lembram velhas mansões e a arquitetura
Vinda lá do velho Portugal

Nobreza antiga dos portais lavrados
Grossos batentes de amplos janelões
Salões forrados de papel floreado
E a solene majestade dos saguões

Pelas salas, alcovas e longos corredores
Os grandes móveis de jacarandá
Cintilam cristais sobre os aparadores
A um canto, a rede franjada de puçá

Nas paredes, em molduras doiradas
Velhos retratos dos antepassados
Os consoles, as marquesas torneadas
E o alto piano de castiçais prateados

É noite. Junto à mesa, à luz do lampião
Sinhá moça vai tecendo o seu crochê
Na doçura do lar, à hora do serão
Sinhazinha a medro abre um livro e lê

A vovó na cadeira se embalando
Preso aos dedos o rosário de capim
Vai rezando, cochilando, dormitando
Velhinha e cansada d'um viver sem fim

Na rede a um canto, a mucama entoa
Uma doce cantiga de ninar
A melodia terna no salão ressoa
Calma! Poesia, e a santa paz do lar

Da cozinha vem o baque compassado
Do pilão socando o bom café
Ouço na sala um espirro prolongado
É o Coronel tomando o seu rapé

Que lindas cenas do viver antigo!
A donas curvadas sobre o seus bordados
Sinhazinhas ariscas a espiar pelo postigo
Esperando amorosamente os namorados

Lares de antanho... cheios de recato!
Belos costumes do viver de outrora
Um viver tranquilo, simples e pacato
Tão diferente do viver de agora...

Poéticas rótulas desaparecidas
Grossas paredes de taipas seculares
Onde as vovós viveram recolhidas
Anjos de guarda dos antigos lares

Tempos de antanho, cheios de poesia
Tempos passados que não voltam mais
Tenho saudade da vida de alegria
No velho sobradão dos saudosos pais

Quando recordo esse passado morto
Rígido, austero, rico de nobreza
Esse doce lembrar me põe consolo
Ao coração tão cheio de tristeza

Escrevi estas rimas em 1953

Anna Nayá Fleury Nogueira – In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

TROVAS DAS FLORES - parte 1


Fidalga flor da cidade
Florzinha humilde da roça
Se aquela tem majestade
Essa é mais simples, mais nossa

Há flor que ri, flor que chora
Há flores em forma de cruz
Sorrindo a Nossa Senhora
Chorando aos pés de Jesus

Há flores em forma de estrela
Outras há em coração
Do maracujá, triste e bela
É a roxa flor da Paixão

Saudade é flor de mistério
É flor que não sabe rir
Vai com a gente ao cemitério
Quando a gente vai partir

Suspiros! Que tristes flores!
Cor do manto de Jesus
Lembram ais e lembram dores
Lembram chagas, lembram cruz

Perpétua é flor de tristeza
Muito roxa e muito esquiva
Se não tem grande beleza
Está sempre, sempre viva

D’outras flores diferente
É a flor seca, flor que dura
Muito usada antigamente
Pra florir a sepultura

Flor alegre a margarida
Pondo risos no canteiro
Estuante de seiva e de vida
Aos beijos do sol fagueiro

Sempre-viva não fenece
É a flor do bem querer
Do seu bem jamais se esquece
“Hei de amar-te até morrer”

Flor de laranjeira deleita
Flor de muito acatamento
Pois que as noivas ela enfeita
No dia do casamento

As malvas são tão cheirosas
Queridas das vovozinhas
Moravam nas folhas mimosas
Dos livros das Sinhazinhas

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

Trovas das Flores - 2


O lírio é flor branca e pura
Simbólica e imaculada
Dos anjos tem a candura
E o calor da madrugada

A violeta é retraída
De corola perfumosa
Entre as folhas escondida
Tão modesta, tão virtuosa

Malvaísco é delicado
Amoroso e muito terno
Pois anda sempre agarrado
Ao verde caule materno

Girassol! Que flor estranha
De grande porte e dourada
Pois o sol ela acompanha
Em sua marcha compassada

A camélia é aristocrata
Branca flor muito formosa
A sorte lhe foi ingrata
Pois não a fez perfumosa

O cravo é flor imponente
De bom aroma e mui bela
Muito usada antigamente
Pra florir uma lapela

É linda a flor de nobreza
Seu aroma é tão gostoso!
Por seu perfume e beleza
É assim... tão orgulhoso

A esponjinha é dourada
Cheirosa como ela só
Vivia sempre guardada
Nas canastras da vovó

Parasita é flor bonita
De colorido que encanta
Mas... vive toda catita
Da seiva de outra planta

É flor rara a parasita
Que soberba que ela é!
Nos galhos se encarapita
Cá no chão...não bota o pé

Trepadeiras...que arrojadas!
Gostam muito de subir
Galgam cercas e sacadas
Não têm medo de cair

Camaradinha é diferente
De subir não gosta não
Ela vai toda contente
Se alastrando pelo chão

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

Trovas das Flores - Final


Coração de estudante é vermelha
É de bela floração
A um coração de assemelha
Fala de amor, de paixão

Crisântemo, flor majestosa
Exótica flor japonesa
Que enfeita a gueixa mimosa
Com seu colorido e beleza

A sensitiva é medrosa
Recatada e tão pudica
Basta tocar na mimosa
Fechadinha ela fica

Cravo de defunto é descrente
O pobre...é tão desprezado
E florece tristemente
Em jardim abandonado

Anjo da meia noite enleva
De formosura bem rara
Ama a noite, ama a treva
E ao sol...não mostra a cara

A estrela D’alva é formosa
É flor que do céu caiu
Tão branca, tão perfumosa
Por certo do céu fugiu

A esporinha é bem modesta
Não é soberba nem nobre
Pondo alegrias e festa
No jardinzinho do pobre

Roxo e lindo mal-me-quer
Promessa, anseio, ilusões
“Mal-me-quer ou bem-me-quer”
Iludindo os corações

A hortência é flor majestosa
Grande flor ornamental
Em tons de azul e de rosa
Bela, airosa, sem rival

Miosótis, que flor mimosa
De uma linda cor azul
Cor do céu. Linda, airosa
Flor risonha e tão taful

Bem antiga esta florzinha
Das vovós muito estimada
Adorno da Senhorinha
De sua trança perfumada

Que dizer da fresca rosa?
A excelsa Rainha das flores
A mais bela a mais formosa
Rica em matizes e odores

A agreste flor de São João
Com suas pencas amarelas
Nos mastros, lá no sertão
Se enroscam, garridas e belas

Quando Deus criou as flores
Fê-las de rara beleza.
Elas são nossas amigas
Na alegria e na tristeza

Anna Nayá Fleury Nogueira - In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ILHABELA










ILHABELA

Mar entre jardins
A própria cena
Enfeita

Nas árvores-
Batuques ocos de bicos
Entoam tucanos

O vento-
Agita o céu
Enfuna velas

Nos morros-
O agreste da simplicidade
Opõe-se ao luxo das mansões

As sombras-
Azuis
Absolutamente nítidas

Paisagem de imaginação
Onde ao longe
Há um galo sempre a cantar

Onde o tempo
É poesia
Verdadeiramente
Feliz

Miguel

DUNA



De sol vestida apenas
Fascina um bocado e tanto
É fato
Rito próprio
Dos ventos e marés
Um todo só

Miguel Eduardo Gonçalves

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SURTO...

Sopro forte do vento, horripilante
Timbre viril no sangue, a inconsequência
Presente, é forma vã, grande insolência
Indulta a clara inépcia, num instante

Que não se muda mais, pela insistência
Caos humano, febril e triunfante
No rito de um monólogo lesante
Muda-se um ser, emblema da decência

Por certeza do muito que imagina
Ser a perseguição mal que arruína
Tanto intimida o açoite da desgraça

Que o amargor lhe flui como ravina
São resíduos da vida que disfarça
O que a memória esconde numa farsa

Miguel Eduardo Gonçalves

terça-feira, 1 de setembro de 2009

NUANCE EM TOM MAIOR - MARILÂNDIA IN DUET



















NUANCE// EM TOM MAIOR

Caminho por detrás da pele// Figura grácil de mulher
Que dedos inventam// Esboçando
Pintura// Surrealista

Rude dos ventos// Agrestes, sibilantes
Prenúncio do orgasmo// Espasmos de prazer
Dos céus// Encaixe perfeito

Fragmentos// Em levitação
De rosa// Perolada
Pétalas// Da paixão


Miguel// Marilândia