Pusesse por acaso o olhar temente
Em foco o alcançar do universo
Mentira certamente tal pensar
Verdade que sonhou imperiosa
Porque ela se fez demais sutil
Pensar criterioso e aprisionado.
Nos rouba um coração aprisionado
A glória lastreada no temente
Prazer que se destaca por sutil
Medir-se mui deveras universo
Qual nada de uma sombra imperiosa
Desperte-se sublime no pensar.
E agora a separar-se tal pensar
Embora esteja perto, aprisionado
Nos traz enfim a paz imperiosa
Sentida na verdade mais temente
Em vida adormecida no universo
Do ser de um mundo excelso e tão sutil.
Que o homem por querer-se de sutil
Melhor que um murmurado tal pensar
Assopre-lhe de fato do universo
Trazida do infinito aprisionado
U’a mente concebida na temente
Incógnita verdade imperiosa.
Dizer do amém na reza imperiosa
A graça que se faz por mais sutil
Que tão repetitiva jaz temente
Na brisa acumulada no pensar
Herói interessante aprisionado
Um mártir salvador deste universo.
Pudéssemos dizer ao universo
Que a própria gala cai-lhe imperiosa
E assim o dele céu aprisionado
A nós se abriria, por sutil
E após a morte à alma esse pensar
Vivesse ainda atrelado e assaz temente...
Temente então olhando pro universo
Pensar de uma eminência imperiosa
Sutil enceta o senso aprisionado!
Miguel Eduardo Gonçalves
Sextina
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Sextina é um poema que apresenta um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros.
História
Criada por Arnaut Daniel, no século XII, foi usada por alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca, Camões, etc. No Brasil dela se utilizaram Jorge de Lima, Américo Jacó, Waldemar Lopes, Edmir Domingues, Dirceu Rabelo, Alvacir Raposo e outros.
Compõe-se de seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. Assim, as palavras (ou rimas) que aparecem na primeira estrofe, na seqüência de versos 1, 2, 3, 4, 5, 6, repetem-se na estrofe seguinte, na seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3. E se faz na estrofe seguinte a seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3 em relação à estrofe anterior. E assim até a sexta estrofe, finalizando os sextetos. O terceto final, ou coda, tem, em cada verso, no meio e no fim, marcando as sílabas tônicas, as palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.
Ezra Pound, referindo-se à sextina, disse:
"A arte de Arnaut Daniel não é literatura. É a arte de combinar palavras e música numa seqüência onde as rimas caem com precisão e os sons se fundem ou se alongam."
Ao que Edmir Domingues objetou, dizendo:
"Mas é este o objetivo de toda a verdadeira poesia, o perfeito encontro entre a forma e o conteúdo, entre a linguagem e a música".
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• DOMINGUES, EDMIR. Universo Fechado ou O Construtor de Catedrais. Recife: Bagaço, 1996.